Todo lugar tem daquelas pessoas que chegam para conversar, contar da vida, mesmo sem lhe conhecer, né?! Pode ser no ônibus, fila de banco, de banheiro público e até no teatro.
Estávamos eu, meu namorado, João, e um amigo sentados à espera do show, da segunda cultural, no Teatro do Parque. Até que sentou uma senhora atrás da gente. Ela tinha uns 60 e poucos anos, meio loura e usava um óculos com armação preta, fundo-de-garrafa. Meio alto, ela perguntou:
-Está marcado para às 19h, já deve estar começando.
Quando ele ia se virando a senhora começou sua história...
-Ói, meu filho, eu tô aqui com tanta raiva. Meu cachorro morreu! Um cachorro matou o outro, na casa da PROSTITUTA da minha irmã. Tô tão revoltada que não quero mais falar com essa puta. Eu mandei meu sobrinho dar o cachorro, mas o filho da puta não deu!
Comecei a rir. Até tentei me controlar, mas sou péssima para isso. Meu namorado, não sei como, conseguia escutar o lamento da senhora de forma imparcial e, ainda por cima, aconselhando:
- Fico! Ele era louco por mim! Ficava do meu lado, me beijando.
Até que, de forma nostálgica, a senhora relembrou um fato... particular.
-Uma vez eu fiquei nua e ele lambeu a minha bunda.
- Um miniatura. Tão lindo, tão pequenininho. O outro é um grandão.
Ela silenciou e ficou pensativa. Depois de um tempinho, falou para João:
- Ô moço, eu acho que vou mimbora.
- Vá não, fique. A senhora vai sair mais feliz daqui.
- Num é melhor eu ir pra casa ver televisão não?
- Não, aqui a senhora vai se distrair.
- É que eu tô tão revoltada, olhe... Antes num tinha distração nenhuma, agora que ele foi assassinado tá "assim" (fazendo aquele gesto de "muito"). A vida é assim pra mim, um aperreio. Eu não posso ter raiva por causa do câncer.E o cachorro sofreu tanto, uma morte tão feia, foi assassinado!
Ela parou de falar. Eu já estava quase recuperada quando a banda sinfônica subiu ao palco. Até que apareceu o maestro, que é anão. Ok, até aí tudo bem, não fosse a senhora abrir a boca para, encantada com aquele regente, comentar:
- Vixi que coisa mar linda! En, en, rapaz, que coisinha linda. Tudo que é pequenininho eu gosto.
Acho que ela lembrou do cachorro.
Minha gente, eu juro que não queria rir nem do cachorro, nem do maestro, mas com as colocações dessa senhora ficou impossível.
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